Juros disparam com risco fiscal, Caged forte e exterior negativo
Os juros futuros voltaram a disparar nesta terça-feira, refletindo principalmente a piora na percepção de risco fiscal em meio a dados locais fortes de atividade, com efeito potencializado pela ampliação da cautela no exterior.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou em 13,79%, de 13,669% na segunda-feira no ajuste, e a do DI para janeiro de 2024 subiu de 13,31% para 13,58%.
O DI para janeiro de 2025 fechou com taxa de 12,875%, de 12,554% na segunda-feira, e o DI para janeiro de 2027 terminou em 12,82%, de 12,509%.
“O dia começou ruim para a curva por causa do fiscal afetando bastante a ponta longa, depois veio o Caged e a piora em Nova York foi a cereja do bolo”, enumerou o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, ainda no meio da tarde, sobre o aumento nas taxas de juros. Depois disso, o risco fiscal voltou a se sobrepor.
O adiamento da apresentação do relatório da PEC pelo senador Fernando Bezerra (MDB-PE), das 11 horas para as 18 horas, quando os mercados já estarão fechados, foi visto como um sinal negativo, de que mais gastos fiscais poderiam estar sendo negociados.
O governo já elevou o valor do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600, fechou o Bolsa-Caminhoneiro de R$ 1 mil e negociava na proposta a gratuidade a idosos nos transportes públicos urbanos e metropolitanos, que é lei mas para o qual prefeitos reivindicam ajuda financeira do governo federal.
No começo da tarde, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), confirmou a intenção de conceder o vale-gás a famílias de baixa renda mensalmente, como antecipou o Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado. Hoje, o benefício é dado a cada dois meses.
Ainda, a ala política quer aumentar ainda mais os recursos do Auxílio Brasil na PEC para zerar a fila do programa. Para isso, será preciso orçamento além do custo de subir o piso do benefício de R$ 400 para R$ 600.
Os recursos ficam fora do teto de gastos, reforçando o já crescente temor de decretação de estado de calamidade, que livraria os gastos das amarras fiscais.
“A cada hora surge uma despesa nova, não se sabe onde isso vai parar”, comentou Lima.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que o pacote não afetará o resultado fiscal, pois será custeado por recursos extraordinários que não estavam no Orçamento, vindo de dividendos e privatizações.
No raciocínio do mercado, porém, é grande a possibilidade de os benefícios se tornarem permanentes, e, neste caso, sem receitas fixas que possam bancá-los, resultará num problema para o próximo governo.
Os dados forte do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), na esteira da melhora da confiança da indústria e do comércio que saíram mais cedo, acabaram por alimentar a ideia de que o Banco Central pode ter de esticar o ciclo de ajuste da Selic.
Com geração líquida de 277.018 vagas em maio, o saldo ficou muito acima da mediana das estimativas (182.250) e mais perto do teto de 282.416.
Para Alexandre Cabral, especialista em renda fixa e professor ligado a Mercado Financeiro na B3, na Anbima e FIA, o Caged “excelente” pode atrapalhar a política monetária. “A inflação de serviços é altamente influenciada por contratações”, disse, via Twitter.
Para o BC, prossegue, pode ser um problema a mais, que precise subir mais os juros ou ficar com eles mais tempo em um nível mais alto.
Não bastasse o clima interno pesado, o exterior não ajudou.
O tombo da confiança do consumidor nos Estados Unidos, informado pelo Conference Board, e declarações “hawkish” de dirigentes do Federal Reserve acentuaram a sensação de que o país pode chegar num quadro de estagflação, resultando em busca por ativos seguros, como Treasuries e dólar.
Com isso, o dólar passou a subir ante o real, fechando na casa de R$ 5,26, num dia em que o petróleo também avançou, numa combinação ruim do ponto de vista inflacionário e da curva de juros.
*Com Estadão Conteúdo