Investimentos em petróleo e gás alcançarão R$ 102 bi por ano até 2025
Expectativa é de geração de 500 mil empregos no período
Levantamento divulgado hoje (3) pela Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Petróleo (ABESPetro) indica que os investimentos da indústria de petróleo e gás no Brasil alcançarão em torno de US$ 24 bilhões por ano, ou o equivalente a R$ 102 bilhões/ano, até 2025.
O secretário-executivo da associação, Thelmo Ghiorzi, explicou que esse valor é baseado nos investimentos que o Brasil vai fazer nos próximos anos e dos quais o pré-sal corresponde a 62% hoje.
“Vai chegar, em 2030, a 70%”, estimou. Os projetos já aprovados totalizam investimentos de US$ 156 bilhões até 2030.
Considerando que as reservas conhecidas fossem leiloadas, com investimentos sendo efetuados também nessas áreas, o Plano Decenal 2030, do Ministério de Minas e Energia (MME), publicado no ano passado, apresenta potencial de US$ 415 bilhões em investimentos para o setor até 2030, destacou Ghiorzi. “O número seria maior ainda”, completou.
Segundo a associação, o Caderno ABESPetro 2022 lançado hoje é o maior levantamento do primeiro elo da cadeia produtiva do petróleo, na qual estão situadas as empresas que fornecem bens e serviços diretamente para as companhias petroleiras.
O estudo foi elaborado com apoio da consultoria Deloitte. O primeiro Caderno ABESPetro foi publicado em 2017.
Escolhas certas
O presidente da entidade, Rodrigo Ribeiro, afirmou à Agência Brasil que o valor estabelecido no Plano Decenal representa o potencial da indústria, “caso a gente faça as escolhas certas. O caderno procura traduzir o momento especial que a gente vive na indústria, que é o momento de escolhas, de transformação”.
Ribeiro lembrou que, ao longo dos anos, o Brasil registra mais de duas décadas de leilões, com um intervalo de cinco anos sem pregões, que ocasionou um “preço alto” para a indústria.
O momento, segundo manifestou, não permite mais escolhas erradas com relação à indústria.
Ribeiro chamou a atenção que o mundo está se reposicionando com relação à matriz energética, no contexto de transição energética, de um lado, e da segurança energética, de outro.
“Existe um debate muito forte com relação a isso e o mundo está se reposicionando”.
No caderno, a ABESPetro mostra que o Brasil tem uma vocação “natural e inigualável” para explorar os recursos naturais no setor de óleo e gás.
“Mas a sociedade não se beneficia sozinha, a nação não se beneficia sozinha, se esses investimentos não forem feitos e se os recursos não forem efetivamente explorados”. O momento é, também, de escolha estratégica para o país, apontou o presidente da ABESPetro.
O presidente da entidade disse que por uma série de razões econômicas, sociais e ambientais, o Brasil não deveria abrir mão de uma das “poucas e grandes ilhas de excelência” que possui em termos de oportunidade de alavanca de futuro, para um país que é carente em muitas áreas.
Para a ABESPetro, a decisão pelo investimento na indústria de óleo e gás é “estratégica e crucial” para o país.
A publicação apresenta sugestões de instrumentos para o uso pleno desses recursos produtivos.
Entre eles, destaque para o fomento à transição energética por meio de incentivos à produção de gás; a aceleração da produção, com a agilização de leilões de blocos exploratórios; estabilidade e ampliação do Repetro; e aprimoramentos dos instrumentos de incentivo à pesquisa, desenvolvimento e inovação (PDI) e de conteúdo local (CL).
O Repetro é o regime aduaneiro especial de exportação e de importação de bens destinados às atividades de pesquisa e de lavra das jazidas de petróleo e gás natural.
Empregos
Com a média de investimentos prevista de R$ 102 bilhões ao ano em exploração e produção até 2025, a expectativa é gerar cerca de 500 mil novos empregos na atividade de exploração e produção de petróleo e gás, o chamado upstream, nos próximos três anos.
Atualmente, são cerca de 340 mil postos de trabalho nesse segmento do setor.
Levando em conta que a agenda propositiva sugerida pela ABESPetro vai ser materializada e o Brasil vai fazer uma escolha estratégica pelo segmento, explorando todo o potencial existente, Rodrigo Ribeiro afirmou que está se falando em uma geração adicional de mais 1 milhão de empregos até 2030, principalmente a partir de 2026. “A gente pode chegar a um total superior a 1,5 milhão de empregos até 2030”.
Pesquisa e desenvolvimento
O levantamento da ABESPetro salienta, por outro lado, que as reservas de petróleo não são suficientes para que um país se torne um grande produtor de óleo e gás, mas que o potencial do recurso natural deve ser alavancado pelos avanços em pesquisa, desenvolvimento e inovação (PDI).
Rodrigo Ribeiro indicou que o Brasil possui uma regulamentação que se propõe a tratar do assunto mas, “infelizmente”, ela ainda não está produzindo efeitos práticos e adequados como os desejados.
“A regulamentação necessita de adequações para que ela se torne realmente veículo de produção estratégica de conteúdo, de pesquisa e desenvolvimento que vai alavancar a indústria e fazer com que a gente possa utilizar todos os recursos disponíveis no nosso parque industrial e na nossa criação de postos de trabalho para a indústria”.
Assegurou que o problema maior no Brasil não é a falta de recursos, porque a regulamentação atual já designa 1% de todo investimento na área de exploração e produção para pesquisa e desenvolvimento, mas o resultado prático não está sendo efetivo.
No ano passado, isso equivaleu a R$ 3 bilhões. Este ano, já está em R$ 1,3 bilhão. “A gente precisa avançar nisso, principalmente com relação a novas tecnologias, para fazer com que a industrialização no Brasil realmente se beneficie de todo o potencial que a gente tem em mãos. A gente precisa melhorar a regulamentação para fazer isso acontecer de fato”, salientou Ribeiro.
Thelmo Ghiorzi acrescentou que esse dinheiro é direcionado para as petroleiras e universidades, para fazer pesquisas básicas e inovadoras, mas não chega, entretanto, nas empresas da cadeia produtiva de óleo e gás para desenvolver inovações e ser exportadora de produtos desenvolvidos localmente, por exemplo.
“Isso acontece, mas são casos pontuais; não é uma coisa sistêmica”. Segundo Ghiorzi, há interesse e capacidade, mas a regulação precisa ser aprimorada.
Ranking
O Caderno da ABESPetro revela que apesar de terem reservas menores que o Brasil, países com alto investimento em PDI, como Estados Unidos e Coreia do Sul, acabam se destacando no cenário mundial.
A China, que é uma das líderes globais na digitalização da indústria, investe 2,14% do seu Produto Interno Bruto (PIB, soma de todos os bens e serviços produzidos no país) em PDI.
Isso levou a China ao segundo lugar no ranking da capacidade de refino, embora apresente produção diária cerca de 60% menor que a dos Estados Unidos, que ocupa a primeira posição.
O Brasil, que é o décimo maior produtor mundial, manteve média de 1,16% de seu PIB investidos em PDI.
O presidente da ABESPetro reiterou que existe um universo de oportunidades enorme do qual o Brasil e as empresas poderiam se beneficiar, inclusive em termos de geração de empregos, com relação às pesquisas voltadas à transição energética.
“Eu costumo dizer que a indústria de óleo e gás é a mola mestra da transição energética. Na nossa visão, a indústria de óleo e gás é a grande indústria de transformação de energia e muitas das companhias investem pesado em projetos de transformação energética, em projetos de geração renovável, de captura de emissões. Muito poderia ser feito se os recursos de pesquisa e desenvolvimento pudessem ser aplicados nesse segmento também”, comentou.
“A gente teria uma indústria moderna e em condição de liderar essa corrida pela transição energética também, enquanto cumpre um papel importante que é a garantia da segurança energética do país”.
Ribeiro disse que a situação geopolítica atual exige uma preocupação grande com relação à segurança energética e a indústria brasileira se sente responsável por isso no país.
“E a gente precisa continuar cumprindo esse papel de entregar energia sustentável, a preços razoáveis, para que a parcela mais humilde da população, principalmente, possa se beneficiar disso, mas também energia segura. Que o país não fique refém da situação geopolítica do mundo de uma hora para outra”.
Arrecadação
De acordo com a publicação da ABESPetro, além da geração de emprego e de renda, o setor de óleo e gás contribuiu com arrecadação de R$ 104 bilhões em 2021, segundo cálculo realizado pela Deloitte.
Esse valor considera a soma de bônus de contratações de blocos exploratórios, royalties, participações especiais, tributos, dividendos distribuídos pela Petrobras e a parcela da União proveniente do regime de partilha do pré-sal.
Por isso, uma das bandeiras propostas pela entidade na publicação é o volume de atividades. A associação defende um calendário plurianual de leilões. “Não é hora de perder tempo”.
Segundo Rodrigo Ribeiro, é preciso incentivar a indústria e promover, no menor tempo possível, a exploração dos recursos existentes “que são extraordinários”.
Com o volume de atividades, aumenta a geração de empregos e amplia a arrecadação, que é importante para o governo brasileiro em todas as suas esferas.
O mapeamento realizado pelo Caderno ABESPetro 2022 confirma o Brasil como candidato a continuar sendo um centro relevante produtor de óleo e gás em esfera global por razões sociais, econômicas e ambientais.
Segundo o presidente da associação, a qualidade dos reservatórios existentes faz do Brasil um dos países com mais baixo nível de emissão de gases do efeito estufa por barril de petróleo produzido.
ABESPetro
Fundada em 2004, a ABESPetro reúne empresas que atuam no primeiro elo da cadeia produtiva da indústria brasileira de exploração e produção de petróleo e gás natural.
Os bens e serviços produzidos por suas associadas são utilizados por petroleiras em identificação e quantificação de reservas; construção, operação e manutenção da infraestrutura de produção; e desativação dos campos de petróleo.
*Com Agência Brasil