Como as emoções impactam nos seus investimentos?
Finanças é muito mais do que números e cálculos, é também comportamentos, sentimentos, pensamentos e emoções, ou seja, não é uma ciência exata e totalmente racional.
Inclusive, existem duas áreas relativamente novas que estudam muito essa relação entre o dinheiro e as emoções, uma delas é a Finanças Comportamentais e a outra a Psicologia Econômica.
Além disso, “apenas” ter educação financeira não é suficiente, e olha que sabemos o quão deficitário este tema é em nosso país, não é mesmo?! É preciso SIM tomar decisões mais conscientes e racionais, portanto, para que isso seja possível, é preciso entender como as emoções impactam as nossas decisões e escolhas.
Razão e emoção, quem manda?
Por mais racional que alguém seja, sem dúvidas, é a emoção quem manda e domina a nossa mente, afinal, somos seres humanos e as emoções estão conosco (como espécie) há muito mais tempo do que a razão.
Há milhões e milhões de anos atrás, foram emoções como os impulsos, os instintos primitivos, as reações automáticas e os reflexos que garantiram a nossa sobrevivência, por isso, elas vêm com mais dominância e força total.
E sim, evoluímos como espécie, mas os instintos, acredite, ainda permanecem em nós!
Quer alguns exemplos?
Chegamos ao mundo – como bebês – no mais puro estado instintivo e cheios de emoção!
Ou então, preste atenção às decisões que você toma quando acorda de bom humor e quando acorda de mau humor, certamente as decisões e escolhas feitas sob mau humor serão piores ou menos saudáveis e de menos “qualidade”.
Outro exemplo bem claro é a expressão “perder a cabeça”, que nada mais é do que a emoção ser tão intensa a ponto de dominar a nossa cabeça e não conseguirmos nem raciocinar direito.
Percebe?!
Antes de sermos racionais, somos sim essencialmente emocionais! A decisão é tomada primeiramente pelo nosso cérebro emocional através de frações de segundos, mesmo que inconscientemente.
E para que você entenda isso ainda melhor, é importante saber que o nosso cérebro é dividido em 03 (três) partes, as quais resumo abaixo:
Cérebro límbico (cérebro emocional): é a parte responsável por controlar as nossas emoções e analisar os comportamentos sociais;
Neocórtex – cérebro “moderno” (racional): é a parte que pondera e analisa, por isso, é um pouco mais lento. É o responsável por tudo que envolve: planejamento, negociação, contexto e coisas relacionadas;
Reptiliano – cérebro primitivo (instintivo): Foi o 1º cérebro a se desenvolver, por isso sua função principal é garantir a nossa sobrevivência.
Então, como a emoção age na hora de investir?
Antes de tomar qualquer decisão (racional) tomamos outra decisão, só que “secreta”, que é emocional, e é exatamente aí que mora o perigo!
A autora Vera Rita de Mello Ferreira, que tem doutorado em Psicologia Social com tese em Psicologia Econômica e desde 2017 é professora na B3 (Bolsa de Valores), chama essa “tomada de decisão emocional secreta” de “semáforo emocional”, tudo isso em conformidade com diversos estudos de psicanálise e ciências comportamentais.
Segundo estes estudos, numa fração de segundo e, de forma totalmente inconsciente, o cérebro acende uma luz diferente conforme o tipo de situação:
Luz com sinal verde: diante de alguma satisfação e/ou alívio no curto prazo. Isto nos leva à ação;
Luz com sinal vermelho: diante de algo chato, frustrante e difícil no curto prazo. Isto nos leva à inação.
Não pense você que somente a luz vermelha traz problemas ao ser acesa! A luz verde também, veja só:
Problemas quando a luz vermelha acende
Ao ignorar o que já foi visto, sentido, ouvido ou lido, passamos a não dar valor (o famoso e informal termo “não dar bola”) e/ou até mesmo a não se importar com as consequências! Conseguiu ver o perigo disso?!
Problemas quando a luz verde acende
Tal sensação (boa) de satisfação e/ou alívio pode não passar de uma ilusão ou fantasia, ou seja, pode trazer uma sensação de realidade que, na verdade, não existe. Viu só o perigo aqui também?!
Pontos importantes sobre o “semáforo emocional”:
– Ele garante apenas um prazer momentâneo, ou seja, no curto prazo;
– É um modo de viver entre prazer e desprazer;
– Não há luz amarela para dar qualquer sinal/alerta de atenção.
Portanto, SIM! O estado de espírito do momento influencia nossas análises, escolhas e decisões não somente no que diz respeito aos investimentos, mas de qualquer tipo ou área.
Não é sempre que conseguimos raciocinar e nem mesmo raciocinar corretamente. São as emoções que, inclusive, nos permitem raciocinar!
Outro assunto que precisamos entender sobre o impacto das emoções nas nossas decisões e escolhas é chamado de Vieses Comportamentais.
Vieses comportamentais
São tendências de comportamento e existem vários tipos, vamos entender os principais que têm impacto direto com a pergunta que foi o tema deste artigo:
Viés de confirmação: é a tendência de sempre buscar os dados que confirmem a nossa crença do momento, ou seja, te leva a acreditar somente naquilo que você já acredita, que já gosta, como se apenas os investimentos que gosta fossem bons.
Por exemplo: se você acredita que aquele investimento é maravilhoso, só vai buscar informações com quem também acredita que é e, por consequência, vai descartar, ignorar e/ou rejeitar qualquer evidência e dado contrários, mesmo que tenham toda a razão do mundo.
Loucura isso, né?
Efeito manada: a imitação é o nosso primeiro modelo de aprendizado, além disso, imitar é algo que parece fácil, por isso atrai muito.
O “efeito manada” é ainda mais comum sobretudo em momentos de pânico e incertezas, como vivemos, por exemplo, no início da pandemia e estamos vivendo novamente agora por conta das eleições.
Sem contar que temos uma “fantasia secreta” de que “os outros sabem de coisas que eu não sei, então não quero perder esse bonde!”, isto leva ao FOMO – Fear of missing out (medo de ficar de fora) e pode te levar a investir em algo somente porque “está na moda” e “todo mundo está investindo”, sendo que o melhor investimento, como já vimos aqui, não é o mais investido pela maioria das pessoas e nem o mais famoso (nem mesmo o mais rentável), mas sim aquele que está totalmente alinhado com o seu perfil e seus objetivos, de curto, médio e longo prazos.
Outro viés é em relação aos nossos “critérios” de avaliação de risco e é bem em linha com o viés de confirmação que funciona assim: se gosta de algum tipo de investimento, você vai atribuir um risco baixo e um benefício alto, por outro lado, se não gostar, você vai atribuir um risco alto e um benefício baixo. Isto pode te levar facilmente a fazer más escolhas de investimento, seja entrando onde não deveria, por estar desalinhado com o seu perfil e objetivos, seja ficando de fora de uma boa oportunidade, mais alinhada com você!
Conclusões
Bom, agora que você entendeu um pouco sobre como as emoções podem dominar o nosso lado racional e impactar nas nossas escolhas e decisões de investimentos, quero finalizar este artigo com algumas dicas bastante importantes:
– Antes de tomar qualquer decisão se lembre sempre desse “semáforo emocional”, que não tem luz amarela, operando secretamente na nossa mente!
– Todos esses vieses comportamentais podem te levar a fazer más escolhas e tomar decisões ruins nos seus investimentos aumentando seus riscos de perder dinheiro.
– Não tome decisões por impulso, no calor do momento, espere um pouco, respire! Isso sempre ajuda a organizar as ideias.
– Não entre de cabeça em oportunidades duvidosas, que prometem altos ganhos, em prazos curtos e com baixos riscos. Isso não existe!
– Procure ter o apoio e acompanhamento de um especialista isento para te ajudar nas suas escolhas e decisões de investimentos (e financeiras como um todo). Isso reduz o risco de decisões por impulso e traz muitos benefícios, sobretudo de longo prazo, para os seus investimentos e para a sua vida financeira como um todo!
– Os seus pensamentos geram os seus sentimentos que geram os seus comportamentos que, por fim, geram os seus resultados (isso é científico, não sou eu quem estou dizendo não!), logo tudo o que você pensa e sente impacta diretamente nos seus resultados! Portanto, cuide bem dos seus pensamentos e sentimentos!
-Daniela V. Monteiro
*As opiniões do colunista não refletem necessariamente a posição da Estoa.