Haddad diz que faltam “detalhes pontuais” para divulgação do novo arcabouço
A expectativa é de que o novo arcabouço fiscal saia ainda esta semana
Nesta segunda-feira (20), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, explicou que ainda existem “detalhes pontuais” a serem acertados antes do anúncio oficial do arcabouço fiscal, previsto para acontecer antes na viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à China, datada para o próximo domingo (26).
Em entrevista, ele informa que “tem uma decisão que precisa ser tomada sobre o arcabouço regulatório [relacionado às PPPs] que nada tem a ver com o fiscal, mas que trata de investimentos e que estamos ultimando na Fazenda”, explicou o ministro.
O arcabouço regulatório é composto por uma série de medidas relacionadas aos investimentos nas parcerias público-privadas (PPPs) do governo federal.
“A dúvida é se lançamos juntos ou não. Para mim é indiferente, mas é uma medida importante para alavancar investimentos no momento que o país precisa de investimentos”, completou.
Arcabouço fiscal
O ministro se reuniu hoje com líderes do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), e do Senado, Jaques Wagner (PT-BA), e com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) para apresentar sua proposta para o novo arcabouço fiscal e buscar apoios políticos ao texto por recomendação de Lula.
“Fiquei de falar com os líderes da Câmara e do Senado e com os presidentes das Casas. Nós expusemos as linhas gerais do que será anunciado pelo presidente da República e a recepção de todos foi muito boa, assim como foi dos ministros na sexta”, explicou.
Contudo, autoridades e lideranças do Congresso voltaram a pressionar Haddad, publicamente e nos bastidores, cobrando um texto flexível, que preveja expansionismo fiscal para estimular o crescimento econômico.
Mesmo sem a divulgação do texto, o ministro tem sido alvo dentro do próprio partido, assim como aconteceu na questão da reoneração dos combustíveis.
Esta foi uma importante vitória em meio a uma disputa de visões entre a equipe econômica e alas do governo do PT, que viam a medida como impopular e inflacionária.
De acordo com um influente parlamentar petista, a cobrança é para tentar impedir que Haddad instale uma proposta muito ortodoxa e dificulte ainda mais a retomada do crescimento econômico, fator crucial para o sucesso do terceiro mandato do presidente Lula.
Na última sexta (17), o governo reduziu a expectativa oficial de crescimento para 2023 de 2,1% para 1,6%.
A presidente do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann, expôs no Twitter parte das preocupações discutidas por parlamentares.
“Se é verdade que a economia crescerá menos este ano segundo indicadores divulgados pelo governo, precisamos então aumentar os investimentos públicos e não represar nenhuma aplicação no social. Em momentos assim, a política fiscal tem de ser contracíclica, expansionista”, defendeu.
Expectativas do mercado e taxa de juros
As taxas de juros tiveram leves altas nesta segunda-feira, com os investidores à espera de eventos importantes nesta semana, como a apresentação do novo arcabouço fiscal e também as decisões da política monetária do Banco Central e do Federal Reserve (Banco Central americano).
O vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), criticou a taxa de juros mantida pelo Comitê de Política Monetária (Copom), mas avaliou que a apresentação de um novo arcabouço fiscal pelo governo deverá abrir caminho para a redução desse índice.
As decisões do BC e do Fed ocorrem nesta quarta-feira, chamada de “super quarta” pelos participantes do mercado, em função da importância das decisões.
“O mercado está em compasso de espera para ver o texto do arcabouço fiscal. E tem também a super quarta, que será importante após as dificuldades com os bancos no exterior. Até lá, o mercado está aguardando”, comentou Wagner Varejão, especialista em investimentos e sócio da Valor Investimentos.
Desde cedo, a curva do mercado exibia altas entre os contratos mais curtos e recuos entre os mais longos. No entanto, o movimento foi limitado durante toda a sessão.