Ações descomplicadas: um guia para investidores de primeira viagem

Investir em ações pode parecer intimidador para quem é novo no mundo dos investimentos, mas com a orientação certa, é possível começar a investir de maneira inteligente e segura. Ações são o tipo de investimento mais popular do mercado de renda variável, pois muitos investidores se interessam em serem acionistas de grandes empresas de capital aberto.

O que é o mercado de ações e para que serve? 

O mercado de ações é um ambiente no qual são negociados títulos emitidos por empresas de capital aberto. Esses títulos são chamados de ações e representam uma fração do capital social das empresas que os emitem.

O principal objetivo do mercado de ações é permitir que empresas obtenham recursos financeiros para investimentos em suas atividades. Por meio da emissão de ações, as empresas conseguem captar recursos junto aos investidores, que passam a ser sócios da companhia e, em contrapartida, podem obter ganhos com a valorização dessas ações.

Abertura de capital

Uma das formas de emitir ações é por meio do IPO (Initial Public Offering), que é uma oferta pública inicial de ações. Esse processo ocorre quando uma empresa decide abrir o seu capital, ou seja, permitir que suas ações sejam negociadas na bolsa de valores. Para isso, a empresa precisa seguir uma série de regras e requisitos estabelecidos pelos órgãos reguladores, como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), no Brasil.

Para os investidores, o IPO pode representar uma oportunidade de adquirir ações de uma empresa com potencial de crescimento e obter ganhos financeiros a longo prazo. No entanto, esse é um momento arriscado. O desempenho da empresa no mercado de ações dependerá de uma série de fatores, como a gestão dos negócios, a concorrência no setor, a conjuntura econômica e outros fatores externos. Por isso, é importante avaliar cuidadosamente as informações disponíveis antes de investir em uma empresa que acabou de fazer um IPO.

Normalmente os IPOs acontecem em momentos em que o mercado está “aquecido”, ou seja, com a economia em alta, muito raramente veremos IPOs em momentos de recessão. Isso ocorre porque facilmente se acredita na possibilidade de valorização das empresas nesse momento e acabam investindo por conta do forte marketing feito pelas corretoras e bancos, que obtém grandes lucros fazendo as intermediações entre as empresas e os investidores.

Mercado Primário e Secundário

O mercado primário é o ambiente em que ocorre a primeira emissão de ações de uma empresa, seja por meio de um IPO, como explicamos no tópico anterior, ou por meio de uma oferta subsequente de ações (follow-on). 

Já o mercado secundário é o ambiente em que ocorre a negociação das ações já emitidas e que estão em circulação no mercado. Nesse mercado, as ações são negociadas entre os investidores, por meio das corretoras de valores, sem a participação direta da empresa. A grande maioria das negociações em bolsa ocorre no mercado secundário, que é constante e mais previsível, já que se pode ter melhor visão sobre o histórico de preços das ações.

No mercado secundário, o preço das ações pode subir ou descer conforme a quantidade de pessoas que querem comprá-las ou vendê-las. Se a maioria dos investidores prefere comprar determinada ação, seu preço sobe. O oposto também é válido, se há mais gente preferindo vender do que comprar, o preço cai. Isso ocorre devido à lei da oferta e da demanda.

Variações de Preço

As variações de preço das ações são frequentes e podem ocorrer em curtos períodos de tempo. Essas variações são influenciadas por diversos fatores, como o desempenho da empresa, a conjuntura econômica, a política, a concorrência, entre outros.

Se uma empresa divulgar um balanço financeiro positivo, suas ações tendem a valorizar, atraindo mais investidores e aumentando a demanda pelos papéis. Por outro lado, se a empresa apresentar um resultado negativo, é comum que seus papéis percam valor. E essa situação pode se estender a outros papéis do mesmo setor. Ex: Se o Banco do Brasil divulgar um resultado abaixo do esperado, é comum que além de suas ações desvalorizarem, ocorrer o mesmo nas ações de Itaú, Santander e Bradesco.

É importante lembrar que as variações de preço não são uma ciência exata e muitas vezes podem ser influenciadas por eventos imprevisíveis, como crises políticas ou desastres naturais. Por isso, é fundamental estar sempre atualizado sobre a situação das empresas e do mercado como um todo, a fim de tomar decisões informadas sobre os investimentos em ações.

Como escolher as ações para comprar?

Um dos principais fatores a se considerar é o desempenho financeiro da empresa, ou seja, como ela tem se saído nos últimos anos em termos de lucro, receita e endividamento. Além disso, é importante avaliar o potencial de crescimento da empresa, seus planos de expansão, inovação e adaptação às mudanças do mercado.

Outro ponto importante é conhecer o setor em que a empresa atua e o cenário macroeconômico, pois alguns setores podem ter um desempenho melhor em épocas de crise, enquanto outros podem ser mais sensíveis às mudanças do mercado. Por exemplo, em épocas de alta inflação, empresas do setor de alimentos e bebidas costumam ter um desempenho melhor, pois as pessoas continuam consumindo esses produtos mesmo em tempos de crise.

Também é importante considerar a governança corporativa da empresa, ou seja, se ela tem uma gestão ética e transparente, além de práticas sustentáveis e sociais responsáveis. Isso pode trazer mais segurança e confiança aos investidores.

Ao escolher quais ações comprar, é importante considerar essa diferenciação entre empresas cíclicas e não cíclicas, já que as primeiras podem apresentar maior potencial de lucro em momentos de crescimento econômico, mas também maior risco em períodos de crise, enquanto as segundas podem oferecer maior estabilidade e segurança, mas talvez com menor potencial de ganhos expressivos.

Empresas cíclicas e não-cíclicas

As empresas cíclicas são aquelas cujo desempenho está diretamente ligado às oscilações da economia, ou seja, elas têm altos e baixos em seus resultados financeiros de acordo com o momento econômico do país. Alguns exemplos de setores cíclicos são o de construção civil e varejo, que tendem a cair quando a taxa de juros (Selic) está em alta e a subir em momento de juros baixos, e de siderurgia, que acompanha o ciclo de commodities.

Por outro lado, as empresas não cíclicas são aquelas que possuem um desempenho mais estável, independentemente das flutuações econômicas. Essas empresas costumam atuar em setores mais perenes, como bancos, elétricas, saneamento e seguradoras.

Como ganhar dinheiro com ações?

Existem diversas maneiras de se ganhar dinheiro com ações. Veja abaixo algumas das principais:

Dividendos: algumas empresas distribuem parte de seus lucros aos acionistas na forma de dividendos. Esses dividendos podem ser pagos de forma periódica, como mensal ou trimestralmente, ou em forma de pagamento único. Os dividendos podem ser uma boa fonte de renda passiva para os investidores. Assim como ocorre nos fundos imobiliários, os dividendos são isentos de imposto de renda.

Juros sobre capital próprio (JCP): assim como os dividendos, os JCP são uma forma de as empresas remunerarem seus acionistas. A diferença é que os JCP são tributados de forma diferente dos dividendos, o que pode ser vantajoso para alguns investidores.

Bonificações: as bonificações são ações adicionais distribuídas pelas empresas aos acionistas como forma de aumentar sua participação no capital social da empresa, ou seja, em vez de receber pagamento em dinheiro, recebe em novas ações. Essas ações são distribuídas de forma gratuita, proporcionalmente ao número de ações que o investidor já possui.

Trading: o trading consiste em comprar e vender ações de forma rápida, aproveitando as variações de curto prazo do mercado. Essa é uma estratégia mais arriscada e que exige conhecimento técnico do mercado financeiro.

Aluguel de ações: o aluguel de ações é uma operação em que o investidor empresta suas ações para terceiros, recebendo uma remuneração por isso. Essa é uma estratégia de investimento mais avançada e pode trazer bons resultados, mas também envolve riscos.

Vantagens e desvantagens de se investir em ações

Investir em ações pode ser uma ótima oportunidade de crescimento financeiro, mas também apresenta riscos e desvantagens que devem ser considerados.

Vantagens

Potencial de lucros maiores: ao investir em ações, você tem a oportunidade de obter retornos significativamente maiores do que outros tipos de investimentos, como títulos públicos e privados, fundos de renda fixa ou mesmo os fundos imobiliários.

Participação nos lucros da empresa: ao comprar ações de uma empresa, você se torna um acionista e pode receber dividendos e outras formas de distribuição de lucros.

Possibilidade de diversificação: investir em ações de diferentes empresas e setores pode ajudar a diversificar sua carteira de investimentos e reduzir o risco geral.

Desvantagens

Risco de perda: investir em ações apresenta um risco de perda devido às flutuações do mercado. O valor das ações pode subir e descer com frequência e de forma imprevisível, e você pode perder dinheiro se vender as ações por um preço inferior ao que pagou por elas. Em grande parte dos casos, isso ocorre por ansiedade. Quem não aguenta ver seu patrimônio desvalorizar durante anos em ciclos de baixa, pode não estar preparado para este tipo de investimento. 

Necessidade de conhecimento do mercado financeiro: investir em ações requer algum conhecimento do mercado financeiro, da economia e das empresas em que se investe. Isso pode exigir tempo e esforço para se manter atualizado sobre notícias e tendências do mercado. No entanto, esse conhecimento pode ser delegado a algum profissional capacitado.

Volatilidade do mercado: o mercado de ações pode ser volátil e sujeito a flutuações significativas, o que pode ser estressante para alguns investidores e no curto prazo as oscilações podem ser extremamente prejudiciais. O tempo é o maior aliado de quem investe no mercado de ações (além do conhecimento, claro).

Como investir no mercado de ações?

O primeiro passo é abrir uma conta em uma corretora de valores, que é a intermediária entre o investidor e a Bolsa de Valores. Na corretora, o investidor pode acessar o home broker, uma plataforma online que permite a compra e venda de ações. 

É possível iniciar com apenas 10 reais, ou até menos dependendo do momento, caso sinta-se inseguro com a plataforma. No entanto, caso inicie dessa forma, é recomendável escolher uma corretora que não cobre taxa de corretagem, do contrário cada operação terá um custo que pode ser tão alto quanto o próprio preço da ação.

Além disso, é importante que o investidor tenha conhecimento sobre o mercado de ações e as empresas nas quais está investindo. Para isso, pode ser útil estudar e analisar relatórios financeiros, notícias do mercado e outros indicadores econômicos. É importante ter em mente que investir em ações envolve riscos, e é necessário estar preparado para lidar com possíveis prejuízos.

Conclusão

Investir em ações pode ser uma excelente opção para aqueles que desejam fazer o dinheiro trabalhar para si mesmo e obter retornos atrativos no longo prazo. No entanto, é importante ter em mente que o mercado de ações é volátil e pode ser influenciado por diversos fatores externos. Além disso, é essencial ter conhecimento e dedicação para acompanhar o mercado e as empresas nas quais está investindo.

Outra opção para quem não tem tempo ou disposição para esse acompanhamento é delegar isso a profissionais qualificados e especialistas no assunto (como analistas CNPI), para receber orientações e recomendações adequadas. Não se deixe levar por influenciadores ou curiosos do assunto, que podem oferecer informações equivocadas e levar a decisões erradas que comprometem seus investimentos. O tempo e o conhecimento são aliados do investidor consciente, e podem fazer toda a diferença em sua jornada rumo ao sucesso financeiro.

-Guilherme Ferreira

*As opiniões do colunista não refletem necessariamente a posição da Estoa.