BCE eleva a taxa de juros em 0,5 p.p. e prevê inflação mais alta na Europa desde 2011
O BCE elevou as projeções da entidade para a inflação média na zona do euro neste ano, em 2023 e 2024
Nesta quinta-feira (15), o Banco Central Europeu (BCE) decidiu elevar suas taxas de juros em 50 pontos-base, após uma “substancial revisão em alta para a perspectiva da inflação” na zona do euro. Além de ter afirmado em comunicado que pretende subir mais os juros, até atingir níveis “suficientemente restritivos para com o tempo reduzir a inflação ao conter as expectativas da demanda”.
Disse, ainda, que as decisões continuarão a depender dos dados, tomadas a cada reunião.
Iniciando com isso um ciclo de alta para conter níveis recordes de inflação. Com isso, a taxa de depósito passa a ser de 0%, ante -0,5% anteriormente. Em junho, a inflação da região, formada por 19 países, atingiu o maior valor da história, com um acumulado de 12 meses de 8,2%. Desse total, quase metade está ligada a preços recordes de energia.
BCE sinaliza inflação mais alta na Europa
O banco central havia sinalizado em junho que iria realizar uma elevação de 0,25 p.p., mas muitos investidores defendiam que o BCE precisaria ser mais agressivo na elevação, defendendo um aumento de 0,5 p.p.
Alguns dirigentes da autarquia, considerados mais linha dura, também defenderam o movimento.
O BCE elevou as projeções da entidade para a inflação média na zona do euro neste ano, em 2023 e 2024. De acordo com a entidade, a inflação média de 2022 deve ficar em 8,4%, ante 8,1% na última projeção, divulgada em setembro. Para 2023, a inflação média deve ser de 6,3%, ante 5,5%, enquanto a previsão para 2024 subiu de 2,3% a 3,4%.
Em comunicado após a decisão, o BCE afirmou que a medida busca “garantir o retorno da inflação à meta de 2% no médio prazo”, e que passou a ser apropriado adotar um movimento mais forte de alta do que o sinalizado anteriormente devido à conjuntura econômica.
Segundo a autarquia, a decisão foi baseada na avaliação atualizada de riscos inflacionários e no apoio “reforçado fornecido pelo instrumento de proteção para efetiva transmissão da política monetária”, se referindo a um instrumento que buscará reduzir os impactos negativos da alta para países mais vulneráveis do grupo.
Os dirigentes disseram, ainda, que a saída das taxas de juros do território negativo permitirá uma “transição para uma abordagem reunião a reunião sobre decisões de juros”.
Balanço de compra de ativos
O conselho do BCE também falou nesta quinta-feira sobre os princípios para normalizar seu balanço de ativos. A partir de março de 2023, o portfólio do programa de compra de ativos (APP, na sigla em inglês) será reduzido “em um ritmo mensurável e previsível”, e não será reinvestido todo o principal dos títulos que vencem, explica o BCE.
O recuo será de 15 bilhões de euros ao mês em média, até o fim de 2023, e o ritmo subsequente será determinado com o tempo.
Na reunião de fevereiro, os dirigentes do BCE anunciarão parâmetros detalhados para reduzir o estoque no APP. Esse ritmo será ainda reavaliado de forma regular, a fim de garantir que siga consistente com a política monetária em geral e preserve o funcionamento do mercado.
Em relação ao Programa de Compras de Emergência de Pandemia (PEPP, na sigla em inglês), o conselho afirma que pretende reinvestir os pagamentos do principal nos ativos que vêm sendo comprados nesse âmbito até ao menos o fim de 2024. De qualquer forma, a rolagem futura do portfólio do PEPP será gerenciada a fim de evitar interferência na política monetária, acrescenta o comunicado.
Alta dos juros
O ciclo de alta de juros começa meses depois do de outras grandes economias, como os Estados Unidos e o Reino Unido, onde após meses de resistência de diversos dirigentes da autarquia, inclusive a presidente do BCE, Christine Lagarde.
O argumento utilizado contra a alta era de que a inflação seria temporária e ligada a problemas de oferta, além de dizer que a alta nas taxas não resolveria o problema e acabaria dilacerando a economia da região.
O quadro veio a piorar com a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, com as sanções ocidentais e a reação russa limitando o fornecimento de gás natural, o que fez com que os preços de energia disparassem na região.