Bloqueio de estradas está impactando diretamente os setores produtivos
Em decorrência das manifestações, diversos setores têm sido atingidos e já estão enfrentando dificuldades
O bloqueio de estradas em forma de protesto realizado por caminhoneiros em apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL), e contra o resultado das eleições que ocorreram no último domingo (30), já tem atingido e impactado diversos setores produtivos.
Cerca de 100 caminhões estão parados, dificultando o acesso a um dos maiores portos do Brasil, de Paranaguá, no estado do Paraná, conforme apuração da CNN Brasil.
Nos frigoríficos, o abate de animais foi reduzido em algumas unidades e também há relatos de cargas perecíveis paradas em bloqueios.
Posicionamento das empresas e setores impactados em decorrência da paralisação
Um representante do setor de frigoríficos do Mato Grosso, que pediu para não ser identificado, comentou: “A gente tem abates diários e dependemos de transporte diário para a produção. Desde ontem (segunda-feira, 31/10) não conseguimos transitar, então a indústria está literalmente parada neste momento”.
Sendo este um dos setores mais sensíveis por causa dos riscos de interrupção da cadeia produtiva. Na greve dos caminhoneiros em 2018, animais morreram de fome por falta de ração. Além disso, muitas plantas estão localizadas em Santa Catarina, estado com mais pontos de bloqueio.
No setor de lácteos, Gustavo Beduschi, diretor executivo da Viva Lácteos (Associação Brasileira de Laticínios) afirma que há dificuldade tanto de suprimento de insumos, como de escoamento da produção.
“Estamos acompanhando o que está acontecendo e realmente está começando a complicar, pois o movimento que começou ontem escalou muito rápido, muito mais rápido do que em 2018 [ano da greve dos caminhoneiros]”, disse Beduschi em entrevista à BBC News Brasil.
Já a Associação Brasileira de Empresas Aéreas (Abear) alertou para o risco de desabastecimento de combustíveis e impacto na malha aérea durante o feriado. Tripulantes já estão tendo seus voos cancelados por causa dos bloqueios.
A Abras (Associação Brasileira de Supermercados) informou em nota que supermercadistas já começam a enfrentar dificuldades de abastecimento e pediu apoio ao presidente.
No setor automotivo, montadoras já paralisaram totalmente ou parcialmente em São Paulo, Paraná e Minas Gerais. As peças ficam paradas nos bloqueios e, como os estoques são apertados, acaba afetando as linhas de produção. O problema chega num momento em que o setor ainda se recupera da desorganização da cadeia produtiva provocada pela pandemia.
Associação Brasileira da Indústria de Alimentos e setor agropecuário pedem fim dos bloqueios
A Abia (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos) informou em nota que “segue monitorando os possíveis impactos com atenção e preocupação, pois garantir o abastecimento de alimentos para a população brasileira é prioritário”.
A Frente Parlamentar da Agropecuária, que reúne congressistas defensores do setor, também divulgou nota pedindo a liberação das rodovias.
“A Frente Parlamentar da Agropecuária entende que o momento é delicado e respeita o direito constitucional à manifestação, porém ressalta que o caminho das paralisações de nossas rodovias impacta diretamente os consumidores brasileiros, no possível desabastecimento e em toda a cadeia produtiva rural do país”, disse a entidade, em nota.
Diante do cenário atual, completou dizendo, “Fazemos um apelo para que as rodovias sejam liberadas para cargas vivas, ração, ambulâncias e outros produtos de primeira necessidade e/ou perecíveis”.
Posicionamento do presidente Jair Bolsonaro
Em discurso realizado nesta terça-feira (1º), após mais de 40 horas em silêncio desde o resultado das eleições na qual obteve derrota, o presidente Jair Bolsonaro comentou sobre as manifestações que vêm sendo realizadas desde ontem (31).
“Quero começar agradecendo os 58 milhões de brasileiros que votaram em mim, no último dia 30 de outubro. As manifestações pacíficas sempre serão bem vindas, mas os nossos métodos não podem ser o da esquerda, que sempre prejudicaram a população, como invasão de propriedades, destruição de patrimônio e cerceamento do direito de ir e vir […]”. Disse o atual presidente.