Em meio à críticas, Campos Neto vai ao Senado prestar esclarecimentos sobre a taxa Selic
O presidente do BC disse não saber quando os juros cairão e defendeu atuação técnica da instituição
Nesta terça-feira (25), o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, participou de audiência na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. O chefe da autoridade monetária teve de dar explicações sobre o patamar atual da taxa básica de juros (Selic) e a manutenção desse valor.
Campos Neto afirmou que não sabe dizer quando os juros irão cair, e que o arcabouço fiscal “não tem relação mecânica” com essa queda, embora influencie nas projeções da inflação.
“O arcabouço remove um risco de cauda de ter uma piora grande na trajetória da dívida. E vamos lembrar que não tem relação mecânica [entre a aprovação do arcabouço e a queda da Selic], o que a gente precisa é que esse canal de projeções, junto com o de credibilidade, atue de forma a propiciar a possibilidade do Banco Central eventualmente cair os juros”, declarou.
Presidente do Senado cobra redução da Selic e alerta sobre autonomia do BC
Desde agosto do ano retrasado, a Selic está em 13,75% ao ano. Esse nível é frequentemente cobrado e criticado por membros do governo.
Na última sexta-feira (21), o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), disse que “a obstinação de reduzir a taxa de juros” é um tema que une o Brasil.
Pacheco também cobrou a redução “imediata” da Selic e alertou que a autonomia do Banco Central começará a ser questionada, caso a autoridade monetária não reveja sua política. As declarações foram feitas na presença de Campos Neto em um evento que ocorreu em Londres.
Campos Neto afirmou que “o anseio pela queda de juros é político, mas nosso trabalho é técnico” e indicou que as condições para a queda dos juros ainda não estão dadas. A fala repercutiu mal no meio político, sendo interpretada como uma resposta a Pacheco.
Campos Neto defende que a inflação estaria em 10% sem intervenção do BC
Durante sua participação na audiência, Campos Neto argumentou que os mecanismos adotados pelo BC impediram que a inflação aumentasse em um nível maior que a estabelecida atualmente.
Ele afirma que se a instituição não tivesse elevado a taxa de juros durante o período eleitoral, a Selic poderia estar em 18,75%, e a inflação em 10%.
“Nunca na história desse país, nem na história do mundo, foi feito um movimento de alta dos juros em um período eleitoral. O que mostra que o BC entendeu que a inflação ia subir, antes de grande parte dos outros países. O BC do Brasil foi um dos primeiros a subir os juros”, afirmou o economista, lançando mão de uma expressão usada à exaustão pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
De acordo com Campos Neto, “hoje, para controlar a inflação e a expectativa do ano que vem, teríamos que ter juros de 18,75%. Se não tivéssemos, a inflação ia contaminar e subir bastante. O BC atuou de forma autônoma”.
“A inflação atualmente se encontra em 5,8%, mas poderia ter chegado a 10% no ano passado”, acrescentou.
O presidente do BC afirmou ainda que deseja baixar a taxa de juros, mas que o movimento deve ser feito no momento certo, com credibilidade, para conseguir convencer o mercado.
Ele ainda pontuou que apenas baixar a Selic, sem uma estratégia adequada, iria gerar um aumento de taxas bancárias.
“O BC quer que caiam os juros. O BC gosta de trabalhar com os juros baixos, gosta de ter a economia crescendo de forma sustentada, com inflação baixa. Houve períodos no passado com juros reais altos, e o resto [do mundo], com juros baixos, mas não é o que está acontecendo agora”, pontuou.
Em sua fala, Campos Neto voltou a dizer que o BC atua de forma técnica para conter a inflação, e defendeu que a entidade é muito cautelosa para que uma queda de juros “sem credibilidade” não tenha efeitos reversos, ocasionando ainda mais aumento na inflação.