Incertezas fiscais podem trazer risco de alta da inflação, diz Copom em ata
O Banco Central voltou a mostrar preocupação sobre o impacto das incertezas fiscais sobre a sua atuação na ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada nesta terça-feira, 21. “O Comitê reforça que a incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do País e políticas fiscais que sustentem a demanda agregada podem trazer um risco de alta para o cenário inflacionário e para as expectativas de inflação”, ressaltou o documento.
Na quarta-feira, 15, o Copom decidiu por unanimidade elevar a taxa básica de juros, a Selic, em 0,50 ponto porcentual, para 13,25% ao ano. O comitê ainda sinalizou que um novo aumento igual ou de menor magnitude deve ser decidido pelo colegiado no encontro de agosto.
Novo ajuste de juros
O Copom repetiu, por meio da ata de seu último encontro, que “antevê um novo ajuste, de igual ou menor magnitude” do que em junho para a próxima reunião, em agosto. O comitê afirmou que sua atuação demanda “cautela adicional” diante da “crescente incerteza” da atual conjuntura e do estágio avançado do ciclo de ajuste, que ainda tem impactos a serem observados.
Desde o início do processo de aperto monetário, a Selic já subiu 11,25 pontos porcentuais, a alta mais forte desde 1999.
O BC ainda repetiu que poderão ser feitos ajustes nos passos futuros para assegurar a convergência da inflação às metas, e a depender da evolução do balanço de riscos, da atividade econômica e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante de política monetária.
O Copom também voltou a dizer que é apropriado que o ciclo de aperto monetário “continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista”, diante de suas projeções de inflação e com o risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos.
Estratégia de convergência
Ainda segundo o documento divulgado nesta terça, a estratégia de convergência para ao redor da meta da inflação exige uma taxa de juros mais contracionista do que o utilizado no cenário de referência por todo o horizonte relevante.
O uso da expressão “ao redor da meta” foi acrescido pelo Copom no comunicado da semana passada e, de acordo com economistas, foi um dos destaques do documento.
“O Comitê avalia, com base nas projeções utilizadas e seu balanço de riscos, que a estratégia requerida para trazer a inflação projetada em 4% para o redor da meta no horizonte relevante conjuga, de um lado, taxa de juros terminal acima da utilizada no cenário de referência e, de outro, manutenção da taxa de juros em território significativamente contracionista por um período mais prolongado que o utilizado no cenário de referência”, trouxeram os membros do colegiado na ata desta quarta.
Especificamente sobre a reunião da semana passada, o Copom concluiu que um novo ajuste de 0,5 ponto porcentual era apropriado frente a um ambiente de elevadas incertezas fiscais e o estágio significativamente contracionista da política monetária. O comitê considerou as defasagens do processo, salientando que ele deve impactar a economia mais fortemente a partir do segundo semestre deste ano.
No início da discussão, o colegiado avaliou o ciclo de ajuste feito até aquela reunião. “Ressaltou-se que o ciclo de aperto monetário corrente foi bastante intenso e tempestivo e que, devido às defasagens de política monetária, ainda não se observa grande parte do efeito contracionista esperado bem como seu impacto sobre a inflação corrente”, salientou a ata.
Ainda assim, o Comitê notou que ocorreu deterioração tanto na dinâmica inflacionária de curto prazo quanto em suas projeções mais longas, ainda que o cenário esteja “cercado de incerteza e volatilidade acima do usual”.
*Com Estadão Conteúdo.