“Eu tenho mandato até 2024 e não vou abreviar”, diz Campos Neto
Presidente do Banco Central diz que indicação de sucessor faz parte do jogo da autonomia: “Quem decide é o governo”
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que vai permanecer em seu cargo até o fim de seu mandato, previsto para encerrar em 2024.
Com a indicação de Gabriel Galípolo, secretário-executivo do Ministério da Fazenda, à Diretoria de Política Monetária da autarquia, surgiram rumores sobre o braço-direito de Haddad suceder o atual chefe – ainda, com a possibilidade de uma “oferta casada” à presidência antes do final do mandato de Campos Neto.
“Eu tenho mandato até 2024, não vou abreviar. O que eu sempre disse é que não estava disposta a uma recondução. Já fiz bastante coisa, tem que passar o bastão para o próximo”, afirmou em entrevista à Globo News na última quinta-feira (25).
Após a entrevista, as falas de Campos Neto repercutiram impactos no mercado de ontem. Nesta sexta-feira (26), o chefe do BC terá reuniões com presidentes do Itaú, Bradesco, Santander, Nubank e Federação Brasileira de Bancos (Febraban). À tarde, ele se reunirá com o presidente da bolsa de valores brasileira, a B3, e com gestoras de investimentos.
Mudanças na diretoria do Banco Central
Galípolo e o Auditor-Chefe do BC, Ailton Aquino dos Santos, foram nomeados por Fernando Haddad, ministro da Fazenda, a assumir, respectivamente, diretor de Política Monetária e diretor de Fiscalização.
Na última quinta-feira, Campos Neto novamente parabenizou e elogiou Galípolo e Aquino. “Converso bastante com Galípolo desde o início do governo. Ailton é super querido dentro do BC. As indicações do governo fazem parte da regra do jogo da autonomia, foram boas”, disse o presidente do Banco Central.
Ambos os nomes ainda precisam ser aprovados pelo Senado.
Campos Neto afirmou que Galípolo, apontado para seu sucessor, irá aprender muito no dia a dia, assim como ele mesmo aprendeu.
“Tem uma parte muito técnica que ele vai aprender no dia a dia. Essa diretoria tem uma parte muito conectada com mercados, com a parte de câmbio e juros, então será um processo de aprendizado muito grande para ele, como foi para mim”, continuou.
Para o chefe da autoridade monetária, a nomeação do secretário-executivo é parte da autonomia do BC – assim como é para o cargo nomeado a Aquino, embora rumores de um diretor de mercado assumir diretor de Fiscalização tenha sido criticado pelo Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central (Sinal), que defendiam a indicação de um servidor de carreira.
“Ele vai chegar como diretor de Política Monetária e tem um trabalho que precisa ser feito. A gente vai discutir ao longo do tempo, mas quem decide o nome do presidente é o governo, que pode escolher um diretor que está na casa ou alguém de fora”, declarou Campos Neto.
Taxa de juros e inflação
Em entrevista à GloboNews na última quinta-feira (25), Campos Neto também disse ter ficado impressionado com a aprovação do novo arcabouço fiscal, porém não vê relação direta com a redução da taxa básica de juros.
Definida pelo Comitê de Políticas Monetárias (Copom) do BC, hoje, a Selic está em seu maior patamar em seis anos, em 13,75% ao ano.
O chefe da autoridade monetária enfatizou na composição do comitê – integrado pelos oito diretores e presidente do BC – como contexto da incerteza sobre a redução da taxa de juros em um futuro próximo.
Sem saber o voto de cada diretor, Campos Neto enfatizou que os diretores possuem opiniões diferentes. “Tenho certeza que os diretores que entrarem entenderão que o processo é técnico”, declarou.
Ainda, o presidente da autarquia afirmou que o resultado de maio da prévia da inflação oficial “veio melhor”. ter sido uma “surpresa grande”.
Divulgada na quinta-feira, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) registrou uma alta de 0,51% no índice, contra a estimativa do mercado de 0,64%. O levantamento puxado, principalmente, pelo preço de itens de saúde e cuidados pessoais foi comentado por Campos Neto, que disse que os gastos em itens como vesturário foi uma “surpresa grande”.