Lula critica autonomia do BC, juros altos e sugere revisão do modelo
As declarações foram dadas em entrevista à “RedeTV!”
Em entrevista ao programa “É Notícia”, da RedeTV!, na última quinta-feira (2), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez críticas ao modelo autônomo do Banco Central (BC) do Brasil, além de questionar os níveis altos da taxa Selic, os juros básicos da economia.
Ainda durante o programa exibido, Lula comenta sobre Jorge Paulo Lemann, sócio da 3G Capital, acionista de referência da varejista Americanas (AMER3).
Lula critica BC e juros
Durante a entrevista, o Presidente da República trouxe ressalvas sobre o modelo de atuação autônomo do Banco Central brasileiro. “De que serviu a independência? Eu vou esperar esse cidadão [Roberto Campos Neto] terminar o mandato dele para a gente fazer uma avaliação do que significou o Banco Central independente”, afirmou.
Dessa forma, Lula dá a entender que considera uma revisão no modelo do BC ao fim do mandato do atual presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, indicado no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a partir de dezembro de 2024.
A autonomia da autoridade monetária da economia brasileira foi sancionada em 2021, durante o governo de Bolsonaro. A partir da data, os cargos que compõem o BC passaram a vigorar pelo período de quatro anos. Eles, no entanto, não coincidem com o período de mandato do Presidente da República.
Apesar disso, logo após, ele diz, ainda, que a principal questão em pauta é o motivo da taxa Selic estar acima dos 13%. Isso pois, de acordo com o presidente, não há inflação de demanda, o que faz com que o nível de juros seja excedente, referindo-se ao presidente da autoridade monetária como “cidadão”.
“Esse país com 4% de inflação, com a economia crescendo, vai embora, cresce. É que o presidente do Banco Central nunca viveu a inflação que eu vivi de 80% ao mês. […]”. disse.
“[…] Nós temos que chegar a uma inflação padrão Brasil. Uma inflação de 4,5%, de 4% é de bom tamanho se a economia crescer”, concluiu o presidente.
Durante a primeira decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, durante o terceiro mandato de Lula, foi decidido que a taxa Selic fosse mantida em 13,75% ao ano, questão que o petista criticou.
Dessa forma, o presidente afirmou que irá fazer uma reunião com empresários e bancos para discutir sobre a taxa de juros na economia brasileira. “Não existe nenhuma razão para a taxa de juros estar em 13,75%, nenhuma razão”, disse.
Mercado Financeiro e Lemann
Enquanto questionava a independência do BC e criticava o patamar da taxa de juros, o petista também indagou o mercado financeiro.
Durante a entrevista, o Presidente da República afirmou que seria dever do mercado auxiliar no crescimento econômico do país. “O mercado tem que entender que o mercado já ganhou demais. Seria muito importante que o mercado estivesse preocupado em ajudar a economia a crescer, não apenas eles crescerem”.
Citando o escândalo recente do rombo fiscal da varejista Americanas (AMER3), o petista comparou Jorge Paulo Lemann, um dos acionistas de referência da companhia, à Eike Batista, dizendo que o acontecimento não seria uma “pedalada”, mas sim uma “motociata”.
“Vai acontecer o que aconteceu com o Eike Batista. As pessoas vendem uma ideia que eles não são”, disse,
“Esse Lemann era vendido como o suprassumo do empresário bem-sucedido no planeta Terra, que financiava jovens para estudar em Harvard para formar um novo governo e falava contra a corrupção todo dia”, concluiu Lula.
O presidente comparou, também, a reação do mercado financeiro diante das medidas anunciadas pelo governo e do escândalo envolvendo a varejista, dizendo que o que o “chateia” é que “qualquer palavra que você fale […] o mercado fica nervoso, o mercado fica muito irritado”.
“Agora, um deles joga fora US$ 40 bilhões de uma empresa que parecia ser a mais saudável do planeta Terra e esse mercado não fala nada, ele fica em silêncio. Por que tanto amor pelos grandes e tanto desinteresse pelos menores?”, concluiu.