Ações do Credit Suisse despencam após principal acionista negar novo aporte
Queda de quase 30% do banco suíço assusta mercados dias depois da falência de dois bancos estadunidenses
As ações do Credit Suisse operavam em queda na manhã desta quarta-feira (15) após seu principal acionista ter afirmado que não vai, de forma alguma, aumentar a assistência financeira ao banco suíço.
“A resposta é absolutamente não, por muitas razões além da razão mais simples, que é regulatória e estatuária”, explicou Ammar Al Khudairy, presidente do Conselho de Administração do Saudi National Bank. “Não podemos, porque iríamos acima de 10%. É uma questão regulatória”, disse em entrevista à Bloomberg TV nesta quarta.
Às 10h30 (horário de Brasília), depois das afirmações do banco da Arábia Saudita, o Credit Suisse, segundo maior banco da Suíça, recuou quase 30% na Bolsa de Zurique.
As turbulências do banco suíço dão sequência aos impactos no mercado financeiro desta semana. O derretimento das ações de um dos principais bancos do mundo assustou os investidores que se atentam ao risco de crise bancária intensificada com a falência dos bancos estadunidenses Silicon Valley Bank (SVB) e Signature Bank.
Credit Suisse
Na última terça-feira (14), com a divulgação do relatório financeiro do quarto trimestre de 2022 junto aos resultados dos últimos anos, o Credit Suisse afirmou ter encontrado “fraquezas significativas” nos controles internos de divulgação dos mesmos, e que a saída, ainda em andamento, de seus clientes de base contribuíram com um gasto de 110 bilhões de francos suíços.
A instituição já estava enfrentando impasses de Securities and Exchange Commission (SEC) – o equivalente da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA – sobre o movimento de capital de 2019 e 2020 destacados no relatório anual de 2021. Deste modo, o banco teve que adiar a divulgação dos dados referentes a 2022.
No ano passado, de acordo com o documento, o Credit Suisse reportou um prejuízo líquido de 7,3 bilhões de francos suíços (US$ 7,917 bilhões) – é o pior resultado já registrado pela instituição desde a crise de 2008, quando a queda foi de 8 bilhões de francos suíços.
Houve um consenso das autoridades financeiras do Credit Suisse que seus controles não foram completamente eficientes, e que estas fraquezas levaram às revisões de dados.
A liderança do banco, que inclui os comandos instalados no ano passado de Ulrich Körner (CEO) e Dixit Joshi (CFO), apontaram que é possível que haja mais distorções pertinentes.
Quarta-feira (15)
Como principal acionário, o SNB adquiriu 9,8% do Credit Suisse ano passado através de um aumento de capital, além de ter se comprometido em investir até US$ 1,5 bilhão (1,5 bilhão de francos suíços).
Nesta quarta-feira, o presidente do Saudi National Bank afirmou que não iria injetar mais capital na instituição suíça por questões regulatórias.
De reação, os principais índices das bolsas europeias fecharam todos em queda.
Em Londres, o índice FTSE 100 recuou 3,83%, a 7.344,45 pontos, enquanto em Frankfurt, o índice DAX sofreu uma desvalorização de 3,27%, a 14.735,26 pontos.
Da mesma forma que em Paris, o índice CAC-40 teve uma perda de 3,58%, a 6.885,71 pontos, e em Milão, o índice Ftse/Mib caiu 4,61%, a 25.565,84 pontos.
Por último, em Madrid, o índice Ibex-35 registrou uma baixa de 4,37%, a 8.759,10 pontos, e em Lisboa, o índice PSI perdeu 2,77%, a 5.812,87 pontos.
Já no Brasil, no pregão de pré-fechamento, às 16h25 (horário de Brasília), o principal índice da B3, o Ibovespa apontou uma queda de 0,12%, a 102.804,23 pontos.
Adversidades do Credit Suisse
A reação do mercado, contudo, não foi em resposta solamente à incapacidade de um novo aporte. Não é a primeira vez que o Credit Suisse enfrenta embates.
O banco vem sofrendo uma série de escândalos e problemas legais e jurídicos nos últimos anos.
Em 2021, o Credit Suisse perdeu US$ 10 bilhões de clientes com a falência da empresa britânica financeira Greensill e, após um golpe do Archegos Capital Management, teve um prejuízo de US$ 5,1 bilhões.
Como outros bancos de Wall Street também sofreram danos, o prejuízo significamente maior do Credit Suisse foi indicado por uma “falha fundamental de gestão e controles”.
O aporte do Saudi National Bank, inclusive, foi realizado devido ao plano de reestruturação do banco em razão do golpe do Archegos Capital Management.