Americanas (AMER3) admite fraude e aponta participação de diretoria; ações disparam
Investigações conduzidas pela empresa chegaram à conclusão
Cinco meses após revelar um dos maiores escândalos contábeis da história do país, a varejista Americanas (AMER3) apontou nesta terça-feira (13), em Fato Relevante, a participação de sua diretoria interna em um caso de fraude relacionado à um rombo de cerca de R$ 20 bilhões.
Além de apontar a participação dos diretores, o documento divulgado também detalha o funcionamento do caso.
Fraude da Americanas
O relatório com dados preliminares acerca do rombo contábil da varejista, público há quase cinco meses, foi apresentado ao Conselho de Administração pelos assessores jurídicos da administração da Américanas no dia de ontem (12).
Assim, é dito que os documentos complementares identificados pela Administração e seus assessores, juntamente com resultados apresentados pelo comitê de investigação independente, “indicam que as demonstrações financeiras da Companhia vinham sendo fraudadas pela diretoria anterior da Americanas”.
Em Fato Relevante, a empresa confirma, ainda, que o material reunido apresenta esforços da diretoria anterior para ocultar a “real situação de resultado e patrimonial da Companhia” do Conselho de Administração e do mercado em geral.
Além disso, a companhia também afirmou que os ajustes contábeis finais ainda estarão refletidos nos “demonstrativos financeiros históricos auditados”, que devem ser reapresentados assim que os trabalhos forem finalizados.
“O Conselho de Administração orientou a Companhia e os Assessores a apresentar o
Relatório a todas as autoridades competentes e avaliar as medidas visando ao
ressarcimento dos danos causados pela fraude em suas demonstrações financeiras”, conclui a varejista.
Varejista detalha escândalo
A varejista detalhou, ainda, como a fraude ocorreu e os envolvidos, de acordo com as investigações e o material reunido.
Assim, o documento afirma que o relatório em questão indica a participação de Miguel Gutierrez, ex-CEO; dos ex-diretores Anna Christina Ramos Saicali, José Thimótheo de Barros e Márcio Cruz Meirelles; e dos ex-executivos Fábio da Silva Abrate, Flávia Carneiro e Marcelo da Silva Nunes.
Segundo o documento, diversos contratos de verba de propaganda cooperada e instrumentos similares (VPC) foram identificados, mas sem efetiva de contratação com fornecedores.
Eles são um tipo de incentivo comercial utilizado comumente no varejo, mas foram “artificialmente criados para melhorar os resultados operacionais da Companhia como redutores de custo”.
Isso fez com que os lançamentos, “feitos durante um significativo período”, atingissem um total de R$ 21,7 bilhões em 30 de setembro de 2022.
Além disso, as contrapartidas contábeis em balanço patrimonial se deram, em sua maior parte, na forma de lançamentos redutores da conta de fornecedores, atingindo também em 30 de setembro de 2022 R$ 17,7 bilhões.
A diferença de R$ 4 bilhões entre ambos os resultados “teve como contrapartida lançamentos contábeis em outras contas do ativo da Companhia”.
Dessa maneira, para honrar com o pagamento de fornecedores e gerar o caixa necessário para continuar com as operações da Americanas, uma série de empréstimos foram contratados pela diretoria anterior sem o conhecimento do Conselho de Administração.
O documento destaca duas operações:
- Operações de financiamento de compras (risco sacado, forfait ou confirming) de R$18,4 bilhões, em números preliminares e não auditados;
- Operações de financiamento de capital de giro de R$ 2,2 bilhões, em números preliminares e não auditados.
Por fim, também foram identificados “lançamentos redutores da conta de fornecedores oriundos de juros sobre operações financeiras”, chegando a, em números preliminares e não auditados, R$ 3,6 bilhões em 30 de setembro de 2022.
Ações disparam
Diante da admissão do caso de fraude, as ações da Americanas (AMER3) dispararam durante o pregão desta terça-feira (13). Por volta das 15:40 horas (horário de Brasília), os papéis da varejista somaram uma alta de 5,17%, aos R$ 1,22.
Apesar disso, foi às 10:30 do dia de hoje que os ativos atingiram sua máxima diária, com valorização de 16,10%, negociados a R$ 1,37.