Ibovespa cai e já tem perda semanal, em meio à piora em NY com temor de juro alto
De olho no payroll (dado de emprego dos Estados Unidos), na indústria brasileira e em renovados temores fiscais locais, o Ibovespa começou o pregão desta sexta-feira em queda. Nem mesmo a valorização das commodities impedem o recuo, em meio a relatos de novos casos de covid-19 em Xangai. Com isso, o índice da B3 apaga a alta semanal acumulada até ontem, em torno de 0,40%, e caía em torno de 0,30% perto de 11 horas.
O destaque da agenda, o relatório oficial do mercado de trabalho dos Estados Unidos mostrou criação de 390 mil vagas em maio nos Estados Unidos, ante previsão de 328, com a taxa de desemprego ficando estável em 3,6% (previsão 3,5%). Já o dado de março foi revisado de 428 mil para 398 mil.
“Criou-se mais vagas, há mais pessoas com emprego e consumindo mais. Isso é mais inflação, e o Fed [Federal Reserve, o banco central dos EUA] deve olhar isso, podendo acelerar a velocidade de alta do juro para 0,75 ponto porcentual ante 0,50 ponto”, avalia Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença.
Em um primeiro momento, os mercados tiveram pouca oscilação ao payroll, observa Enrico Cozzolino, head de análise e sócio da Levante Investimentos, indicando um “não evento”. No entanto, pondera que o mercado de trabalho, no geral, segue apertado. “Por enquanto, os Estados Unidos não conseguem diminuir o desemprego. É o terceiro mês seguido que a taxa está em 3,6%”, avalia, destacando a aceleração dos juros americanos de longo prazo.
Mercado espera palavras
Em tese, o avanço dos juros pode pressionar o Fed a continuar agindo para conter a inflação. Agora, o mercado espera as palavras da vice-presidente da autoridade monetária, Lael Brainard, a fim de se ter pistas sobre o ritmo de alta dos juros nos EUA.
No Brasil, a atividade indica moderação. Depois da alta do PIB no primeiro trimestre, a produção industrial em abril mostrou expansão de 0,1%, ficando menor do que a mediana de 0,2%, reforçando recuperação gradual da atividade doméstica. Conforme o IBGE, a indústria opera 18,0% abaixo do nível recorde alcançado em maio de 2011.
O desempenho é insuficiente para motivar ações ligadas ao ciclo econômico. Isso porque após a alta do PIB no primeiro trimestre, as projeções são de desaquecimento no segundo semestre.
Ao mesmo tempo, fica no radar o recrudescimento das tensões fiscais, diante da possibilidade de adoção de estado de calamidade pública, a fim de se obter créditos extras para financiar subsídios do diesel, gasolina e gás.
Guedes promete solução
Em reunião às pressas ontem no Palácio do Planalto com membros do governo e o presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, prometeu encontrar uma solução para a escalada dos preços sem a necessidade de decretação do estado de calamidade.
Após ceder mais cedo, o petróleo volta a subir. As ações da Petrobras passaram a testar alta. Os papéis seguem no foco das atenções, à medida que a novela sobre a mudança da diretoria ganha novo capítulo. Agora, fala-se que o governo estaria tentando tirar José Mauro Coelho do comando da Petrobras sem ter de fazer uma assembleia de acionistas, a fim de acomodar o indicado, Caio Paes de Andrade (secretário de Desburocratização do Ministério da Economia).
Às 11 horas, o Ibovespa caía 0,61%, aos 111.701,89 pontos, após recuar 0,99%, aos 111.276,83 pontos.
*Com Estadão Conteúdo