Equipe de Lula avalia a retirada do Auxílio Brasil do teto de gastos e mercado reprova
Segundo o presidente eleito, é preciso colocar a questão acima dos interesses do mercado financeiro
Nesta quinta-feira (10), o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniu com parlamentares no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), e, durante a reunião, defendeu que a questão social deveria ficar à frente dos temas de interesse do mercado financeiro.
A equipe de transição do petista, dessa forma, propôs a avaliação de retirar os custos com o Auxílio Brasil, de R$ 600,00, do teto de gastos do governo para, assim, garantir a quantia durante o ano de 2023.
O mercado financeiro, no entanto, não reagiu de forma positiva às propostas, fazendo com que o dia fosse marcado por quedas no mercado de ações.
Exclusão do Auxílio do teto de gastos
Para garantir que o benefício — que deve ser renomeado novamente para Bolsa Família durante o governo petista — repasse uma quantia de R$ 600,00 durante 2023, a equipe de transição do presidente eleito estuda a retirada do Auxílio Brasil do teto de gastos.
A exclusão seria feita de forma permanente, e é uma opção considerada pela equipe do petista. Anteriormente, o grupo considerava a retirada de forma temporária dos desembolsos com o benefício do teto de gastos do Orçamento de 2023.
Em sua fala, dada na sede do governo de transição, no CCBB, Lula questiona por quais motivos as pessoas são “levadas a sofrer” por conta da garantia da “tal da estabilidade” fiscal do Brasil.
“Por que toda hora as pessoas falam que é preciso cortar gastos, que é preciso fazer superávit, que é preciso fazer teto de gastos? Por que as mesmas pessoas que discutem teto de gastos com seriedade não discutem a questão social neste País?”, completa.
Além disso, de acordo com o presidente eleito, o governo deveria passar a enxergar alguns gastos públicos como investimento. ““É preciso mudar alguns conceitos.”, diz.
O petista questiona, ainda, cortes em benefícios feitos para cumprir a meta fiscal. “Não é possível que se tenha cortado dinheiro da farmácia popular em nome de que é preciso cumprir a meta fiscal, cumprir a regra de ouro”.
O discurso, no entanto, não refletiu reações positivas no mercado financeiro. O índice Ibovespa acumula, às 14:32 (Horário de Brasília), uma queda de 3,36%, aos 109.768 pontos.
De acordo com o mercado, a medida poderia afetar de forma direta a dívida pública. Segundo o economista-chefe da XP Investimentos, Caio Megale, a decisão de excluir o benefício seria a pior das possibilidades.
“Não que os programas sociais não sejam importantes. Mas, à medida que você tira uma classe de gastos de dentro do teto, ele passa a não ter referência para frente”.
A medida, segundo Megale, prejudica a “previsibilidade da política fiscal”. Ao total, caso aprovada, a medida pode excluir do Orçamento de 2023 cerca de R$ 175 bilhões.
Além de manter o benefício aos R$ 600, o petista também havia prometido repassar uma quantia de R$ 150 para beneficiários com crianças de até seis anos, o que implicaria em R$ 18 bilhões.
Na Câmara dos Deputados, o líder do Partido dos Trabalhadores (PT), Reginaldo Lopes, defendeu Lula em seu discurso, questionando a reação do mercado financeiro.
“O mercado reagiu mal por quê? Nenhum presidente na história do País tem mais credibilidade para falar do fiscal que o presidente Lula. Ele conseguiu superávit primário combinando com crescimento econômico. Ele tem essa credibilidade”, disse.
Lula sobre a fome
Em seu discurso, o presidente eleito também aproveitou para comentar sobre o tema da fome. Citando um trecho do seu discurso na vitória das eleições de 2002, o petista se emocionou.
“Se quando eu terminar esse mandato, cada brasileiro estiver tomando café, almoçando e jantando, eu terei cumprido, outra vez, o meu papel”, disse.
Ainda nesta quinta-feira (10), às 16 horas, o presidente eleito deve se encontrar com o senador Marcelo Castro (MDB-PI), o relator do Orçamento de 2023 no Congresso Nacional.